O Cinema do III Reich e o Antissemitismo

12-03-2014 16:59

Todos nós sabemos o valor da propaganda para a disseminação de ideologias, "qualidades" de um produto, etc. É conhecido também todo o horror envolvendo o Nazismo e suas barbaridades em relação ao povo judeu e, também aqui, a propaganda não ficou de fora, principalmente com o cinema. Filmes como "Os Rothschilds", "O Judeu Süss" (1940) e "O Eterno Judeu" (1940) são visíveis expoentes da construção e disseminação da ideia do judeu como o "mais miserável dos seres" e de como a figura dele esteve ligada a tudo que fosse contrário a "grande raça pura ariana".

Vale lembrar, para continuarmos a análise, que o antissemitismo não era coisa exclusivamente da Alemanha e muito menos dos nazistas. Na Europa como um todo, o antissemitismo encontrava espaço, e a exclusividade na Alemanha nazista se encontra na relação entre o totalitarismo, aumentando o antissemitismo e o colocando como importância de Estado, e as suas consequências, em que houve um planejamento para a aniquilação dos judeus. Por que, então, a Alemanha Nazista utilizou o antissemitismo? A Alemanha estava passando por crises sucessivas desde o fim da Primeira Guerra Mundial e, de forma simplificada, os judeus foram pegos como bode expiatório e tidos como culpados da crise. Importante também lembrar que a descrição dos judeus abaixo é a descrição que o filme antissemita faz, e não condiz com a opinião do site.

Enfim, vejamos alguns exemplos da propaganda antissemita: Alcir Lenharo aponta que tais filmes são violentos e que perseguem a todo custo a ideia de que o judeu é desumano e intolerável na convivência com outros povos. Em "Os Rothschilds" o judeu é retratado como animal perigoso que acumulou fortuna às custas das desavenças entre nações, evidenciando um caráter de parasita da comunidade judaica, acusada de pensar apenas em si mesma. No filme, os judeus seriam bem sucedidos financeiramente porque se alimentariam das discórdias entre nações desenvolvidas. "O Judeu Süss" explora a imagem do judeu como sedutor de mulheres e explorador do povo, implacável cobrador de impostos, portanto, um criminoso. Como diz Lenharo: “O filme pretendia avaliar o [suposto] mal que há séculos os judeus infligiam ao povo alemão; daí a necessidade de sua eliminação”. Assim, para os idealizadores do filme, concretizava-se o caráter desumano do judeu, "raça inferior" que merecia a extinção. "O Eterno Judeu", dirigido por Fritz Hippler, diretor da Seção Cinematográfica no Ministério da Propaganda, é um dos filmes mais doutrinários entre os que trataram do antissemitismo. Teve por objetivo demonstrar a inferioridade dos judeus em relação aos arianos. Ainda fez diferenciação entre “o melhor judeu”, o alemão, e “os piores judeus”, os poloneses. Ambos, segundo o filme, representam a forma mais degradada da humanidade.

No "Eterno Judeu" os judeus são mostrados “como são por detrás de máscaras”. São tratados como pessoas que não gostavam de trabalhar e que só faziam isso sob pressão, em contraste com a imagem dos arianos, trabalhadores com dignidade. Considerados membros de uma raça de parasitas espalhada pela terra, os judeus foram comparados com ratos, pessoas que não pensavam em outra coisa além de dinheiro. O narrador do filme ainda afirmou: “São repelentes, covardes e se movimentam aos bandos”. No filme é mostrada a imagem do judeu intrinsecamente ligada ao comunismo; o narrador afirma que a juventude estava corrompida por culpa de um judeu: Karl Marx.

Dessa forma, o cinema alemão durante o III Reich era utilizado para doutrinar as pessoas para a ideologia nazista de aniquilação dos judeus, seja os acusando de parasitas, seja os relacionado com o "temido" Comunismo. O importante aqui é perceber que a arte nunca é neutra, e serve tanto para disseminar democracia, respeito aos direitos ou, como no caso dos filmes retradados, autoritarismo, preconceito e ódio.

 

 

Para Saber Mais:

Alcir Lenharo - "Nazismo, O Triunfo da Vontade"

Furkhammar & Isaksson - "Cinema e Política"


 

Bruno Machado

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